Eu escrevi há algumas semanas sobre como versões digitais de jogos de tabuleiro podem ajudar a expandir uma experiência que já é boa agora que o design pode usar a ajuda de algoritmos e computadores. Mas o que pode ser possível quando um jogo de tabuleiro é digital desde o início? Sem restrições de componentes físicos ou cérebros humanos, os designs podem ser até experimentais e diferentes, certo? Infelizmente, Bençãos da Babilônia não é uma boa resposta para esta pergunta.

Bençãos da Babilônia

Seu objetivo em uma partida de Bençãos da Babilônia é conseguir uma quantidade de pontos de vitória em cada rodada, percorrendo uma grade hexagonal que se expande a cada turno. No início de cada um, você escolhe peças para expandir o mapa (e o rio que seus navios podem atravessar), em uma experiência semelhante à de Carcassonne. Depois disso, você lança os dados para se mover e tenta obter artefatos extras ou encontrar comerciantes para trocar mercadorias por pontos de vitória. Também é necessário criar caminhos através de peças que produzam a mesma coisa, para que você possa coletar mais no final da rodada.

Há muito a dizer sobre o design estranho deste jogo, pelo menos para mim. Embora uma "partida completa” de Bençãos da Babilônia possa ter sete rodadas, tudo é reiniciado de uma rodada para outra – exceto pelos pontos de vitória que você acumula para uma pontuação alta. É sempre um mapa novo, com novos objetivos e um inventário vazio. O problema acontece quando algumas rodadas têm apenas 2 ou 3 turnos: não há tempo para realmente fazer qualquer tipo de estratégia quando você tem tão pouco tempo para agir. Às vezes parecia que eu estava jogando um puzzle procedural mal projetado.

Bençãos da Babilônia

E então você tem uma participação inesperada da mecânica de Rolar e Mover. Se você é do hobby de jogos de tabuleiro hoje em dia, já sabe o quanto vou falar mal disso agora, mas, por que, no ano de 2024, AINDA ESTAMOS USANDO ROLAR E MOVER DESSE JEITO? Mesmo se você mandou bem no posicionamento das peças, seus navios só se moverão com base nas jogadas de dados. E, como você provavelmente só teve 3 turnos, também não há tempo para se corrigir e se recuperar do azar. Estranho no papel, frustrante na realidade.

Se essas estranhas escolhas de design não bastassem, a apresentação visual de Bençãos da Babilônia não está realmente do lado da boa legibilidade. O jogo parece bom com seus gráficos low-poly, para ser justo, mas às vezes é muito difícil visualizar o que está acontecendo no jogo. Por exemplo, a única maneira de saber se uma peça produzirá mercadorias no final de um turno é se alguns dos objetos (como cocos) estiverem piscando em branco. Com uma interface como essa, meus turnos dobraram no tempo para que eu pudesse ler o tabuleiro e a situação do jogo.

Eu realmente acredito que a mídia digital pode ser uma ferramenta incrível para game designers levarem seus jogos de mesa para outro nível — não só como uma "segunda opção", mas como um meio para alcançar o que era (até então) impossível. Bençãos da Babilônia, entretanto, com suas decisões estranhas de design, suas mecânicas ultrapassadas e sua apresentação ruim, não pode ser usado como exemplo do bom uso dessa mídia. No seu melhor, ele parece um puzzle medíocre que é frustrante de jogar e difícil de recomendar, mesmo para fãs de Carcassonne, Catan ou jogos de estratégia.

O time de desenvolvimento me enviou uma cópia do jogo para que eu pudesse conhecê-lo e escrever esse texto. Obrigado pela confiança!